Ele – É preciso ter muita coragem! Muita.
Ela – É preciso estar completamente desesperado!
Ele – Porque você acha que é desespero e não coragem?
Ela – Porque não é um ato de bravura é desespero. É uma situação de limite!
Ele – Você realmente acredita nisso que acabou de me dizer?
Ela – Acredito!
Ele – Você não entende! Você não sabe, nunca esteve diante do nada e no nada se lançou!?
Ela – Não. Tenho os pés no chão e sei que é o melhor jeito de se estar neste mundo!
Ele – É uma pena! Uma pena realmente você ser tão... Cravada no chão!
Ela – Por que você diz isso?
Ele – Porque é realmente uma pena conhecer alguém que nunca se lançou, nunca se entregou as coisas de um precipício.
Ela – Eu não preciso disso para viver!
Ele – É talvez não precise mesmo. Algumas pessoas não precisam. Passam pela vida desse jeito e acham que com isso saem ilesas das coisas do saltar, do se lançar, do estar nas nuvens!
Ela – Eu não preciso de me lançar para saber que no final existe o chão! Eu prefiro estar nele, com os pés nele!
Ele – Então é isso; você nunca saberá o que é correr o riso de estar pleno.
Ela – Como assim?
Ele – Assim.
Ela – Espera! Você vai pular agora? Aqui na minha frente!
Ele – Vou. E eu queria que você pulasse comigo. Pula comigo!?
Ela – Mas eu não posso!
Ele – Por que não pode? O que te impede de ir comigo, de se lançar comigo?
Ela – Eu prefiro ficar aqui.
Ele – Então eu vou. Mas fique sabendo que não volto mais. Eu me lançarei e quando isso acontecer nós dois estaremos separados para sempre, entende!?
Ela – Mas então por que você quer ir se vamos nos separar?
Ele – Porque eu te amo!
Ela – Mas se me ama então fica!
Ele – Não posso!
Ela – Você é um egoísta, sabia?
Ele – não acho que seja um egoísmo. Eu estou aqui do seu lado te pedindo pra pular comigo pra sermos plenos juntos. Eu quero compartilhar com você! Eu quero que nos deixemos cair nesse precipício que é muito maior e muito mais bonito do que esse chão, que esse lugar.
Ela – Mas você não entende que eu tenho medo!
Ele – Mas eu também tenho medo! Quem lhe falou o contrário?
Ela – Você falou em coragem...
Ele – E você em desespero!
Ela – Mas...
Ele – Pula comigo!? Não vê que eu te amo! Que quero estar com você não importa o quanto isso me deixe com medo. Eu quero estar com você!
Ela – Mas eu tenho medo!
Ele – E eu tenho amor demais...
Ela – Mas eu tenho medo de me machucar quando o chão chegar...
Ele – Mas o chão vai chegar... Uma hora ele sempre chega!
Ela – E aí? E quando o chão chegar...
Ele – Nós vamos nos levantar, eu vou beijá-la, vou cuidar de você e você também vai cuidar de mim. Então, vamos subir vários lances de uma outra escada, que não essa, vamos nos olhar nos olhos e antes de pularmos novamente vamos repetir tudo isso o que acabamos de dizer... Até que chegue o dia em que nada mais fará sentido...
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